03 setembro 2010

Avessamente ao vazio

Estranhamente sinto falta dos textos que me ficaram presos na ponta dos dedos, de todas as pessoas maravilhosas que passaram por mim mas com as quais não logrei viver momentos felizes, dos desejos que espreguicei, das músicas que eu não decorei a letra, do futuro que eu não construí hoje. A razão me impele a sentir raiva de mim, me punir, brincar de adoecer e desafiar a tristeza. Mas avessamente me sinto feliz. Simplesmente me percebo, generosamente me absolvo e carinhosamente me consolo. Só me ocupam o interesse a perenidade e a transitoriedade. Esse EU tem tempo, espaço e data de vencimento. Sinto uma paz ainda um pouco angustiada, mas que ao menos já consegue se expressar. Agradeço então às palavras que sabiamente se omitiram, às pessoas que não se aproximaram, aos desejos que se esvaíram e às músicas que melodibriaram. É justamente esse vazio -diferentemente do que eu enquanto ingênua imaginava- que de forma silenciosa vem construindo o meu futuro. O vazio não mais me causa medo, pois pressinto que ele é apenas aparente. E falta pouco para o que vem em seguida.

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