30 junho 2010

Amor de Roleta (Re-continuação - 2/∞)

No capítulo anterior (leia antes os posts Amor de Roleta (1/3), Amor de Roleta (2/3), Amor de Roleta (3/3) e Amor de Roleta (Re-continuação - 1/∞)):

- Eu quero um final feliz!!! – recostou a caneta sobre as folhas e saiu do quarto, girando a chave pelo lado de fora.

fiquei ali em pé, não sei contar em minutos se por 5 ou 50 (...)
CONTINUA (...)



fiquei ali em pé, não sei contar em minutos se por 5 ou 50, esperando talvez que alinhando meus pensamentos eu encontrasse uma explicação para aquilo tudo, ou, quem sabe, por sorte, acordasse. Mas a única coisa que me veio foi uma súbita tontura e a dor na cabeça voltando a chamar minha atenção para aquela situação bizarra. Tratei logo de me assentar. Percebi que estavam coladas na parede em frente todas as minhas histórias de amores felizes e bem sucedidos e nelas, em caneta de tinta vermelha, viam-se rabiscos, cruzes, desenhos, interrogações, sublinhados, pequenos comentários, todo o tipo de impressões através das quais a pobre Dolores foi se deixando expressar.

- Como pobre Dolores? Ela é apenas um personagem que eu criei! A solidão me fez louca de vez! Dei tanto espaço às idéias dentro de mim que agora elas assumiram o controle!
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ouvi um pigarrear bem marcado e abri os olhos assustada. Bem próxima a mim estavam os quadris mirrados de uma mulher e logo acima deles um cinto que, ao dar quase duas voltas ao redor da cintura, prendia o jeans barato e uma pistola preta. Percebi que havia adormecido em cima das folhas e acordava agora com a visão rotacionada em 90º da mulher por mim criada se impondo como regente da história daqui pra frente.

me endireitei na cadeira e tentei rapidamente repassar tudo o que estava acontecendo, enquanto deslizava meus olhos da arma na cintura de Dolores para a transfiguração em seu rosto ao ver que eu ainda não havia escrito uma linha sequer. Suas mãos trêmulas jogaram em cima da mesa duas fatias de pão de forma unidas com muita manteiga e um copo de água pela metade. Lembrei que aquilo realmente era tudo o que tinha na minha cozinha. Ela ainda me surpreendeu com um vidro de ketchup que devia estar esquecido na despensa. Um ‘obrigado’ quis sair pela minha garganta e eu fiz questão de agarrá-lo no céu da minha boca.

me vi novamente sozinha no quarto, a chave girando pelo lado de fora. Cada vez mais confusa, eu comecei agora a ficar verdadeiramente com medo. Havia me colocado em uma trama para a qual eu não estava literariamente preparada. Todos os meus personagens na parede me olhavam com os braços levantados em sinal de que nada poderiam fazer e essa impotência calava também suas idéias, silenciando a falta de conselhos. Como isso havia acontecido? E mais, isso estava mesmo acontecendo?

tentei buscar as minhas referências do real, mas eu tão pouco conseguia raciocinar. Só me vinha à cabeça ‘Escreve!’ e foi isso mesmo que resolvi fazer. Peguei a caneta, mas logo depois a devolvi à mesa. Escrever pra quê? Pra realizar os caprichos de alguém que não existe e que mesmo assim ousa me sequestrar dentro da minha própria casa e me obriga a escrever? Mas eu ouvia novamente um grito de dentro do meu ouvido “Escreve! Você deve isso a ela!”. Cansada de relutar e começando a sentir realmente uma pontinha de culpa, resolvi voltar ao momento em que peguei o caminho errado na encruzilhada e dar à Dolores uma pequena dose de coragem, da qual ela já se mostrou capaz de assumir.

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ELA acordou naquela manhã decidida a rever o rosto que marcou suas manhãs por inquietantes três meses. Tudo começou quando a mulher com o abdomen que dobrava por cima do cinto (...)
CONTINUA (...)

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