Amor de Roleta (3/3)

No capítulo anterior (leia antes os posts Amor de Roleta (1/3) e Amor de Roleta (2/3)):

(...) Até que um passageiro o chamou de volta a seus trocados e ELE contou algumas moedas.

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a história deles nunca quis acontecer mesmo (...)
CONTINUA (...)




a história deles nunca quis acontecer mesmo. Fui eu, uma pretensiosa escritora que, do meu palanque de trêmulas estruturas, usei do meu poder de tinta azul pra tentar aproximar os dois. Mas pra quê fazer isso? Por que torturar duas almas incapazes de se conquistar? Pra tentar talvez preencher o vazio desse quarto que me encontro? Mas como isso seria possível, se meu corpo goteja? Meus poros são furos de peneira por onde me perco e nunca me sinto saciada.

olho pro lado e vejo que estou submersa em folhas de histórias dos mais diferentes casais, que se encontraram das mais inusitadas formas. Todos felizes, apaixonados! Mas dessa vez eu tinha ido longe demais no meu vício. Não era direito meu brincar com duas criaturas tão incapazes. E o que eu esperava conseguir?

eu já tinha na cabeça uma cena linda pra eles, onde se trancariam em um motel de beira de estrada, com mofo nas paredes e marcas no lençol. E ali ficariam esquecidos por 10, 20 dias, 1 mês, até que as trepadeiras selassem pela eternidade a porta do quarto.

mas nada pude fazer quando ELA decidiu acordar mais cedo, no dia seguinte, e pegar a condução do horário anterior à dele, pra evitar sentir aquela pressão insuportável na cabeça e uma vontade incontrolável de rasgar o peito, puxar a pele com tanta força até ela ceder e expor seu coração à atmosfera deteriorante, que consumiria aquele músculo pulsante e a permitiria andar por aí com esse rombo no peito, mas já sem medo.

termino de escrever essa história com a mão esquerda em punho entre os meus seios. Já não sei se essa vontade era dela ou minha.

FIM

(reescrito em 21 de janeiro de 2010)